quinta-feira, 28 de maio de 2009

Que raiva

Estou doente de raivas.
Só vejo esquinas e para lá delas vazios. Esses têm espinhos que viram tripas com olhos.
Há fogo no canil. Salve-se a colecção de ossos danados e a gamela das dentadas.
Chega a concorrência dos ratos a morder calos e a engolir brasas. O inferno garimpa na testa.
A esmola é uma naifa de dois bicos. Trocos caiem em saco roto.
A mentira é um balão ensaboado. Enche a língua de estrias e pela calada esfuma-se.
A desculpa estúpida manca a sete pés no dorso de um porco.
Já não lhe vejo o rasto, mas sinto-lhe o rosa louco.
Doente, a palavra, derrete-se num copo de azia. Há quem beba e não confesse.
Estou lá no alto e salto de olhos fechados agarrada à gravata da razão.
Faço-me cabra e berro de pulmões abertos.
Mas ninguém ouve, e os tímpanos estouram-me nos olhos…
Cheira a mofo dentro da minha cabeça. Apago-me.