segunda-feira, 15 de março de 2010

psicose afónica

psicose sanguínea pura
a espreitar pela ferida
da mente. a crosta dura.
exposta a dor tecida

bate cega a profundura
do caminho. está perdida.
ri. infecta-se na procura
e não se acha. transida

prostitui-se em veia escura
dopa-se na pele mordida
de azedia corrompida.

abre a boca na investida
entra a mosca, sai a vida
esconjurada. conjectura!….

sábado, 6 de março de 2010

Assombração

A morte
desce-me ao corpo
num chumbo dos pés à lama,
areia movediça,
que me suga a sombra.
Lentamente se descola da pele
o movimento.
Esvai-se o sangue na palavra
silenciada, lâmina do tempo,
ofertada.
Dádiva generosa de ti.
Os ossos, em fractura exposta
de mil pós, desmoronam-me
no respirar da ampulheta
Nem antes, nem depois.
Um vulto, espectro,
paira agora
nas margens de mim.

A vaidade no varal

há vermes por aqui.
homúnculos moribundos
no seu próprio cuspe.
passemos ao largo
desses ajoelhados
que nos arrancam as vestes
a pele, o couro;
com sorrisos metálicos
sugam-nos os olhos,
lambem-nos o ego.
esvaziam-nos.
mirram no corpo,
a pele já pergaminho,
memórias em pó.
única criação:
uma vaidade no varal.

PERDIDA

com esta língua percorro
o poema do teu corpo
a boca toda discorre
em verso o húmido enredo
e uma procura devora
covas, gumes, teu segredo.
os lábios cingem-te o tino
com a ideia do que come
e sobe e desce e vai e vem
numa ânsia mais que fome.
espalhadas dentro do forro
das pernas em firme aperto
as mãos coram extrapolam
descem ao marco, esfolam
no grito, em forte mordida.
sobe o sangue, a carne toda
ao meio, ao alto, perdida.