quinta-feira, 23 de setembro de 2010

talvez o punhal

hoje sem falta, de manhã, traz os pés, as pernas, não esqueças as mãos e os braços que sem eles não se abraça, a boca para me falar os olhos para me ver. traz a alma para que toque na minha um pouco de luz. traz o amor e os beijos que a sede aperta. traz o poema do teu peito para que eu respire...
ou traz um punhal e acaba-me a dor
mas vem

(apunhalar-me de amor)

eu amo

rio,
eu rio, perdi o juízo
não lembro quando nem onde,
talvez me fosse roubado,
ou acaso extraviado
na certa perdi-me dele.

tenho uma branca
no corte da ideia
corre a máquina zero.

saltam outras tantas
da guilhotina.

e reparo:
mas onde pus a cabeça?
sinto-me rir é certo
mas os lábios?
quem os apagou
que os não vejo em mim?

como dizer agora os verbos
sem que a razão troce?
como cuspir estas moscas
que se chocam nos neurónios?

saio estrada fora atrás de bichos
que me comam o pensamento
ratos de letras,
que contaminem palavras coadas
de metafísica em factos.

quem me enfiou cabelos na boca?
que boca? que lábios? que riso?

eu amo...