sábado, 30 de janeiro de 2010

Ai dona tan fea

Ai, dona tan fea, naceste dum cão
a falar te babas, te ranhas e cheiras
tua boca de merda não vale tostão
aberta ou fechada parece que peidas

Ai dona tan fea, tan magra tan torta
como alma penada assustais a gente
va de retro satanás que estais morta
o cão vos roubou do inferno doente,

Ai dona tan fea, esqueci meu cantar
meus dentes tremem só de vos pensar
Ai dona tan fea, tan velha e tan seca
pareceis roída de ratos c'o a breca!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

meu amado, meu amigo

meu amado meu amigo
com que oras noite fora?
fora de horas, ora digo
que é hora de querer agora.

meu amado meu amigo
que me encantas nesse canto
tenho-te no peito, abrigo
do que sinto por ti, tanto

meu amado, meu amigo
meus olhos por teu corcel
a galope pelo perigo
de ser mar na tua pele

meu amado meu amigo
vem de noite de mansinho
acordar meu corpo antigo
beijar-me devagarinho ...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Dor genial

porque me deixaste um sonho rente
cortado nas raízes que eram de ouro
e agora, na saudade e longemente
metade de mim foste, e só eu choro?

porque me entregaste o teu sorriso
se levaste o meu, que já não sinto
o teu olhar guiando, o chão que piso
onde agora me perco e só me minto?

esta dor genial me segue e ri
e eu deliro, oscilo-me de espanto
rasgo-me na ausência e sou o pranto

que toca nos teus olhos vidra em ti
na chuva que te beija, te quer tanto
mesmo que só assim, te tenha aqui...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

a democracia, essa fantasia

aqui, no meu país
sem tecto
a chuva cai
e esfria a casa
insistente
o inteiro corpo treme
e respinga
impunemente...
nas gentes
sorriso apagado
um dente podre
um cigarro acabado
no hálito um porre
e uma fome
que não morre...
nas janelas
tábuas cruzadas
o vento
às rabanadas
bate a porta
acelerada
e a chave no chão
estuprada...
na vida vadia
sem pauta
ou batuta
um violão chia
rouco sem cordas
um escarro melodia
a toda a hora
do dia:
a democracia
essa fantasia...

domingo, 17 de janeiro de 2010

Vestes-me de amor em beijos lidos

Trazes-me a alvorada de mansinho
no aconchego do teu meio
acordo na luz acesa dos teus olhos
e na tua mão me entrego e leio.
Entranho em mim o poema só teu
de um dizer que sem pedir me dás
meada de sonho da cor do céu
enrolado na estrela que te traz..
Lavo a alma nas margens do sorriso
que me ofertas num gosto de romã
e no teu corpo dado faço o piso
que seguro nos lábios da manhã.
Espreguiço-me no ar do teu abraço
enxugo-me na toalha do teu verso
ensaio o amor declamado num passo
o meu no teu num tom que apresso.
E tu, asa de paz, lençol de linho
murmuras o belo aos meus sentidos
e no secreto vão do teu carinho
vestes-me de amor em beijos lidos...