tu que me lês, tem coragem
toma aí conta do medo
não o deixes escapar
ata-o atado, põe dedo
no fio em nó de afogar,
que o medo tem de tudo
pernas, pés e até asas
fala tudo ou fica mudo
endoida vontades rasas.
o medo treme na boca
é um escuro nos ouvidos
é sombra no sono e pouca
fé nos passos de perdidos.
tem olhos que invocam
um sentido formigueiro
e tem mãos, e se tocam
o corpo se escoa inteiro.
tem a boca, tem o grito
ainda o bafo da morte
tem no cair mais aflito
a unha negra da sorte.
está em casa e fora dela
nas paredes, canos rotos
no ar que bate à janela
no arrotar dos esgotos.
anda louco por onde quer
faz esperas nas esquinas
a todos leva e vai ter
pessoas burras e finas.
um operário de bisturi
a pregar um funeral
os doentes a fugir
pela porta do hospital
um médico feito a martelo
na igreja a dizer missa
um político de chinelo
os crentes a dizer chiça
um juiz manco dos olhos
a fazer arranha-céus
e engenheiros aos molhos
a encartar os pneus
poetas de loucas rimas
atiram verbos pelo chão
trocam versos nas latrinas
e no fim lambem as mãos
e, deste poema apertado
num medo, de cu fechado
vai-se o poeta, rato medrado
deixa o leitor entalado....
tu leste-me, foi coragem...
(herói, podes largar o fio)
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
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