sexta-feira, 2 de abril de 2010

partida de mim eu ando

Não quero amar aquele que partiu
Que outro amar demais ao longe vem.
Após um, um outro há mais além
Maior que o céu, que longe já me viu.

Já esqueci esse amor, luz que caiu
Do meu ser, no caminho que me tem
Liberta agora, vou comigo e bem
Perdida do que fui, e me omitiu.

E se este querer assim me faz perder
No lugar que foi d' outro, e já não lembro
Será tempo de me ser, e esquecer

Que partida de mim eu ando a ver
O outro eu por fora que desmembro
Desta parte que ficou, p'ra me dizer.

busca-dor

persigo-me no tempo que se nega
e tão longe está o que me ilude
mas perto queima-me este que me dá
a ideia de ser lume a juventude.
se acaso em ti passar minha desgraça
um frio na espinha, um gelo ao rosto
olha os olhos que te olham, e enlaça-
-m’estas mãos, perdidas no sol-posto.
que frias queimam de ausência, dedos
pelos teus, a pele antiga em sal-sabor,
unhas de tédio, pálida-fome, - rochedos
rasgando o corpo, em busca-dor.

ata-nos em nós de coração

enterra
o teu punhal
no meu ventre
e risca devagar
todo o contorno
de dedos bem abertos
desce o vale
a outra mão na cinta
agarra e sente
todo o meio a morder
a dor da gente.

aperta-me nos dentes
da loucura.
prende-nos na língua
gestual.
saliva-nos
na carne da palavra.

escava a pele da noite
em modo urgente
e cose fundo
nossos braços de mar
em partição.

e se ao pulsar do sangue
a vida escorre
ata-nos em nós
de coração.

Ponto-aflito

Como se viéssemos do fim do tempo
de todos os tempos do espaço inteiro
como se tivéssemos em nós o tempo
na nossa hora de olhar primeiro

Como se nos bastasse só aflorar
esse momento fundo já escrito
como se em viagem bastasse cruzar
as nossas almas em ponto aflito

Como que marcados num astro-rei
à terra mais firme deste amor-hino
e de um só toque fosse adeus sem lei
saudade razão partida - destino