quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

FINJO-TE O OLHAR











Vejo no espelho dos teus
a simetria dos meus…
Observo,
e no verde me entrego,
em aconchego…
Sinto,
muito ao de leve,
o beijo breve…
E minto…

E finjo
que sei, sem que mo digas
E finjo
que sabes, sem que te fale…

Bordo nas tuas mãos
Gestos sem nãos…
Reservo
nos teus lábios o desenho
Dos beijos que tenho…
Absinto
da insana evidência
no peso da tua ausência…
E finto…

E finjo
A eminência da chegada
E esqueço
O fim, o vazio, o nada…

LUA












Esgueiro-me na madrugada
feita uma ingénua catraia,
no colo neve enlaçada,
nas mãos luar como alfaia.
Vou pratear pelas janelas
os sonhos por dentro delas.
Pela manhã ensaio o passo
nas pegadas que desfaço
no dia a alagar vielas…
Sou a Lua Tejo acima.
Louco enleio p’lo meu rio
que em cada esquina se anima
e se ateia em desvario.
Sopro Lisboa c’o a maré, nua,
suspirando em cada rua,
em cada estreia d'alvorada,
em cada gota à foz chegada,
porque o mar a anseia sua…
Sou também desta cidade
mulher, mãe que vela, encanta
todo o ente em liberdade
Sou da alma lume e manta.
Sou baixela de Lisboa,
consciência que povoa
cada mente enamorada.
Força e calma deslumbrada
Viagem com vento à proa…
Sou a Lua desfolhada
pelas mãos da madrugada…
Amor ao Tejo e a Lisboa
que o fado grato, apregoa…

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009









Recebi este selo como prémio da minha amiga Vony Ferreira (http://vony-ferreira.blogspot.com/) oferta que desde já agradeço. De acordo com as regras informo que: deverá ser atribuído só a mulheres; - copiar o prémio e colar no seu blog - fazer referência do meu nome e colocar o endereço do meu blog; - presentear seis mulheres cujos blogs sejam uma inspiração para si e - deixar um comentário nesses blogs para que saibam que ganharam o prémio. Assim sendo, e apesar da dificuldade aqui ficam os nomeados:

http://sentidoemmim.blogspot.com/

http://almacollins.zip.net/

http://cofreforte.blogspot.com/

http://maraoeste.info/

http://www.rosarinhoalves.info/

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PASSOS












Queria sair de mim, e não me posso
Mordo-me de razão, de gesto agrume
Pois não se aparta assim a dor remorso
De não saber de ti amor queixume.

Queria ser menos eu e mais em ti
Saber-te todo aqui em concordata
Tacitamente impulso onde me vi
Nascer em novo grito ou acrobata…

Mas, perseguem-me loucos cães ferrados
Nestas canelas prenhas de longe além
E meus passos descaem descorados.

Sou só vontade a uivar pelos telhados
E se não sei de mim nem de ninguém
‘mor, tu não sabes nada de passados…

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

CULPA

Agora que não sei de ti me invento
Neste olhar de ternura revelada
Lembranças de outro dia meu sustento
Assim a caminhar por entre o nada…

A cada gesto teu em que me ausento
Sou salto, ensejo, fome incendiada
Mas volta sempre a mim o desalento
Que toda a tentativa é derrocada…

Onde andas espelho meu e meu castigo
Meu caminho de ausência atormentada
Que só me vejo em ti, desencontrada…

Vem, que em acaso o corpo que fustigo
É sem teu toque a ânsia desvairada
Na culpa de perder-te, em mim crivada…

sábado, 17 de janeiro de 2009

VERBO

Do verbo nada sei. Só o cuidado
revelar de um breve instante,
a medida certa de um recado
que nos agarra agora ou adiante….

Do verbo não falei. Fugi do fado
que consciência afia a dor distante
Quero antes o silêncio alucinado
das pedras, a quietude constante…

Do verbo não sei. Por isso arrimo
a cada palavra apenas outra afim
que diga a todos o que quer de mim.

O verbo é que me cava. E eu esgrimo.
Valente, ousada a voz que sai assim.
É dos outros no eco oprimido, o fim...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Loucura?

Tenho em mim que o siso é loucura
Entre quatro paredes sem saída…
É a forma escusa, secreta e dura
Da alma que se acobarda à vida…

Destempero, demência, desatino
Têm-me em cada esquina revirada
Meia-volta de vida, feição destino
Uma praça larga, e amotinada…

Prudência me diz da amortalhada
Inútil sisudez aquém de muros
Que os sons todos têm cor de nada
E as palavras todas tons escuros…

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

NUDEZ AZUL

Hoje quero a nudez do azul
Rasgado sobre todas as mágoas…
Pintar-me de céu, despir o meu eu
E quase morrer para renascer…~

Hoje quero o esquecimento
Das pedras no atalho dos rios…
Na azulada nudez: o caminho da foz,
E no saber: o desalinho de nós…

Hoje quero ver-me só a mim
Em ti, e tu em nós achado…
A minha mão na tua, olhar bordado
De azul, azul, azul sem fim…

Queria...

domingo, 11 de janeiro de 2009

MOR'...

Hoje és tu mor’… a minha fome
A que espero abraçar num desvario…
Mor’…de meu sonho já sem nome
Nessa não vida, em ti me concilio…

Hoje és tu mor’… a minha causa
A minha pedra, alçado natural
Voo que anseio, cometa e pausa
Mor’… minha dança e ritual…

Flutuado trânsito p’ra ti mor’…
Tão claro azul, tão doce embalo
Num querer maior que sei de cor
Ver-te em mim, mor’…, que calo…

domingo, 4 de janeiro de 2009

Princípio e fim

O princípio...

De longe nos seguimos deslumbrados
Por margens e caminhos proibidos
Percorrendo de cor os nossos lados
Na louca sinfonia dos sentidos...

Para sempre o sol, o toque, prometidos
Longos suspiros, beijos cobiçados
No peito um do outro decididos
À viagem da vida enfim moldados…

De ventos, adornámos o balseiro
Vestidos já de noite e brandas brasas
Fomos lume, corcel e cavaleiro

Mas a viagem, na noite e tempo inteiro
É em nós, o rio, o mar e as asas
O último céu, o lugar primeiro…

E o fim...

sábado, 3 de janeiro de 2009

SEI-TE DE COR

Correm-me nas veias doces melodias
Que cardei às nascentes dos sentidos
Tal como papoilas rubras em porfias
Dedilham violino aos meus ouvidos.

E tudo em mim se agita em calmarias
Procissão de fados, círios acendidos
Que noite fora me cobrem de ousadias
Prenhes de lume e vida amanhecidos…

Eu sei de cor o gosto em que perdias
Teu ser em mim de afectos convencidos
Nas noites mornas em que me vencias…

E sei de cor acordes e harmonias
Canto de teus braços nus aqui rendidos
À minha volta, em mim, todos os dias…

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

SAUDADES

Neste castro de saudade pousam aves
Plumas de vento salgas pelas mágoas.
Têm no ventre a robustez das naves
No bico a calma súplica das águas…

Almas silentes, vultos pelas sombras,
Sonhos sentidos armam madrugadas.
Alçam voos nas penhas, são pombas
Rumo ao horizonte, asas libertadas…

Vogam em viagem desdobrando cais
Sem pouso, sem beira, almiscaradas
Libertas no tempo, ressuscitadas…

Não vão, nem voltam. Nada a mais
Que fuga, evasão, delírio nas quebradas
Cavalgando pelas horas nunca dadas…